domingo, 30 de agosto de 2009

Saia Justa - Lei Antifumo

No Saia desta semana tive uma revelação: Mônica Waldvogel também é fumante. E, como todos nós fumantes do Estado de São Paulo, se sentiu excluída da sociedade saudável dos não-fumantes.
O exemplo dado pela jornalista do momento de percepção da vida dura que nos aguarda foi o aeroporto. É um lugar que realmente "pede" um cigarro: durante a espera da partida, a espera da chegada de alguém, entre um café e outro uma tragada ia bem. Ia, pretérito imperfeito. Hoje não vai mais. E olha que há muito não se fuma nas aeronaves (eu realmente achava absurda a separação dos assentos fumante/não fumante no mesmo espaço enfumaçado) mas como não fumar antes da partida ou chegada ou antes de entrar no táxi (sim, porque nós fumantes civilizados não fumamos no táxi). E a jornalista pintou um quadro surreal da situação - o fumante fora dos domínios do aeroporto, ou seja, fora da projeção da marquise externa, sob chuva ou sol escaldante com o seu cigarrinho na boca. Não foi exagero, passei por situação semelhante há alguns dias.

Há duas semanas precisei ir a Ribeirão Preto por conta de um curso. Fui de ônibus. O trajeto São Carlos-Ribeirão é feito em pouco mais de uma hora e meia. Na volta tive de esperar três horas para retornar a Sanca (o final do curso não bate com os horários da linha). Era de se esperar que eu fumasse um cigarro neste período, não é? Depois de ler, fazer palavras cruzadas, jogar Sudoku no celular, ouvir rádio, teve uma hora que tive de sair para fumar. E aí começou meu desespero. Procurei por uma área sem o já famoso mapa paulista com a inscrição - É proibido fumar neste local. E qual não foi minha surpresa quando descobri que fora da rodoviária, na calçada, não havia um só pilar sem a placa de aviso - É proibido fumar neste local, ou seja, também é proibido fumar na calçada, no passeio público. Resolvi minha situação atravessando o estacionamento descoberto da rodoviária e parando numa pracinha suspeita. Assim que parei e acendi o meu prazer fui abordada por 3 rapazes me pedindo "um" emprestado (como se empresta cigarro?) quando era óbvio que preferiam estar fumando outro tipo de cigarrinho - preconceitos à parte, foi uma constatação baseada em observação visual e olfativa. Logo disponibilizei cigarro e fogo aos meus companheiros de fumaça. O que poderia ser medo pelo local onde me encontrava e pelas companhias logo se transformou em solidariedade - sinto-me tão transgressora quanto eles, já que o tabaco se transformou em substância proibida. Sim, isto é fato e não exagero. Bem falou ontem no programa Betty Lago - cigarro está proibido, mesmo sua venda sendo permitida e seus impostos bem arrecadados pelo governo.

Todos concordamos que fumar é prejudicial à saúde, que é preciso uma certa civilidade (como ponderou Marcia Tiburi no caso do cigarro) para se fazer uso de qualquer vício: assim como fumar à mesa é muito desconfortável para quem está na mesa ao lado, presenciar cenas de bebedeira quando se está sóbrio é um saco. Aí poderiam dizer que estou exagerando - ninguém tem a saúde prejudicada pela bebedeira da mesa ao lado. E eu responderia - tem gente que em vez de perder a saúde perde a vida por conta da bebedeira alheia; e olha que não estou falando só do perigo de motoristas alccolizados mas daquelas brigas que ninguém sabe como começou mas acabou no hospital. Exageros à parte é muito chato ser policiado por suas escolhas.

Há muito tempo fumo somente em locais abertos. E a minha definição de local aberto parece ser diferente da do governo. Porque calçada é um local aberto. Assim como varanda de bar. Nunca fui daquelas que fogem para a escada de incêndio fumar escondido; se preciso fosse, descia para fumar. Agora é preciso descer e sair de baixo das marquises ou como se diz na minha área, sair da projeção das marquises e ir às ruas para acender um cigarro.
Tomara que quando sairmos às ruas aproveitemos para nos manifestar contra essa lei absurda e outros tantos desmandos dos nossos tempos.

P.S: O governo de São Paulo tem um portal sobre a lei antifumo. E logo no início vem o slogan:
Lei Antifumo
Agora é lei. É proibido fumar em ambientes fechados de uso coletivo em todo o Estado de São Paulo.
Gente! Então o problema está na definição de ambiente fechado!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

2 comentários:

  1. Olá Paula! Procurando informações sobre o que Mônica Waldvogel falou no Saia Justa sobre a lei anti-fumo encontrei seu Blog. Gostaria de parabenizá-la não só pela qualidade do texto mas também pelo excelente conteúdo do mesmo: nós, fumantes, sendo execrados pela sociedade meadiante tantos outros fatos mais prementes que acontecem por aí. Valeu a pena ler seu texto!!! Muito obrigado.

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  2. Agradeço o comentário Alex.

    Continuo achando a lei um exagero e um convite à transgressão.

    Tenho de lhe dizer, entretanto, que já não tenho problemas com a dita lei - parei de fumar no início desse ano. Parece piada, não é?

    Abraços!!!

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Leio primeiro, publico depois!