segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Saga de uma Leitora I - Uma Romântica

Nesse início de ano, na minha retomada ao mundo dos livros, peguei-me tentando lembrar como me apaixonei pela leitura. Consegui!

Antes vou esclarecer um pontinho da minha personalidade.
Em todos os campos evito o preconceito. Para exemplificar, vamos à música. Quando morava em São Paulo gostava de sintonizar a Alpha FM. No Rio, minha rádio favorita era a JB. Isso nunca me impediu de curtir um bom pagode (tradicional, nada de "sambanejo"), amar Almir Sater, ir ao show da Maria Bethania e chorar de emoção (no Canecão, foi lindo!), adorar Ivete Sangalo cantando até Parabéns pra você, dançar ao som de Madonna e ouvir Ramones só para alegrar o dia. Se me emociona de qualquer forma, eu ouço feliz, sem me preocupar com os rótulos. Isso inclui música gospel, nunca me senti tão bem como numa visita à Comunidade Evangélica Internacional Zona Sul, ali na Praia do Flamengo, numa noite de louvor.

E assim também sou com minhas leituras.
Os livros sempre estiveram presentes na minha infância e agradeço aos meus pais por isso.
A estante de livros (houve um tempo que havia estante de livros!!! Hoje é uma odisséia tentar comprá-la. A vendedora logo pergunta - não quer espaço para TV? E para o decoder da Net? Olha, essa já tem até furo para os cabos!) ficava na sala, acessível a todos. E meus olhos curiosos percorriam as lombadas vez por outra para ver se tinha novidades.
Minha mãe era sócia do Círculo do Livro. Alguém aí lembra do Círculo?
Era como um clube. O associado recebia uma revista em casa com o catálogo de livros da editora e tinha por obrigação comprar pelo menos um título por revista (acho que sua periodicidade era trimestral). Coletâneas e lançamentos do mercado editorial tinham preço especial no Círculo. Bons tempos.

Enfim, na nossa estante tínhamos de Monteiro Lobato a Sidney Sheldon. De Jorge Amado a Maquiavel. E ainda tínhamos os livros da escola - quem tem por volta de 30 anos deve se lembrar da Série Vaga-Lume, da Editora Ática (para quem tiver interesse em fazer um jovem se apaixonar por livros, indico a série; ela ainda existe!), presente na leitura obrigatória escolar.

Mas com todos esses estímulos, quando penso em livros, da minha adolescência, lembro-me mesmo é de Júlia, Sabrina e Bianca. Os romances água-com-açúcar, com jeito de Sessão da Tarde, naquela receita básica de comédia romântica: moça conhece rapaz, apaixona-se, tem complicações no romance, mas triunfa em um final feliz (e final feliz de romance açucarado é sinônimo de casamento). Eu não sei como me deparei com esses livros, os romances da Editora Nova Cultural, seriados em nomes femininos ou em clássicos históricos. Lembro-me bem, porém, da reação do meu pai quando me pegou devorando um desses romances - sua indignação por estar perdendo tempo com esse tipo de não-literatura, sendo que tínhamos bons volumes na nossa estante!

Na época não entendi o porquê de tanto barulho. Eu estava lendo, afinal. E isso sempre foi sinal de bom comportamento na minha casa.

Minha madrinha, mais sutil, disse-me que não tinha problemas eu escolher entre os livros considerados boa literatura ou os que não eram considerados pelo meu pai bons para se ler, desde que eu lesse os dois tipos. E me presenteou com um livro escito e aprovado para leitores jovens: Mamãe não pode saber, de J.M. Simmel, Editora Nova Fronteira, edição de 1982. Como tenho hábito de datar quando compro e começo a ler um volume (graças à Mamis), sei que ganhei o livro nas minhas férias de verão em 1987, no dia 6 de fevereiro, em Pau Grande. Devorei o livro. Adorei principalmente o argumento da minha madrinha para continuar lendo os meus romances açucarados. Era uma romântica aos quase 12 anos.


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