quarta-feira, 31 de março de 2010

Pílula Cultural

Fui a Sampa no último final de semana e como sempre foi uma correria!

Dessa vez, porém, consegui cumprir a agenda cultural programada: tinha decidido ir ver a exposição "Brava Gente", de Tide Hellmeister, na Caixa Cultural, que se encerraria dia 28, último domingo.

Comentei sobre ele no último post. Conheci seu trabalho na coluna de Paulo Francis, "Diário da Corte", no Estadão. Infelizmente descobri tardiamente essa mostra, acabei não divulgando a dica aqui. De qualquer forma, fica aqui o registro: fui, vi e adorei!

"Brava Gente" traz as imagens de pessoas observadas no cotidiano de Tide, em suas viagens de metrô. Se no transporte eram apenas rostos sem identidade, na obra de Tide são transformadas em personagens de grande importância com nome, profissão, data de nascimento e morte.

A montagem de "Brava Gente" estava interessante. Era possível interagir com os cenários que serviam de suporte para as obras de Tide. E o catálogo (em primoroso trabalho gráfico) traz, além da reprodução das obras, alguns dos textos que as ilustram - as biografias recriadas dos retratados.

No último post deixei link para a página de Tide, mas esta parece estar em manutenção.
Bem... há um blog, Exposição Brava Gente, com fotos das obras e da montagem. Vale a pena dar uma olhada.

Sobre a Caixa Cultural

Foi a primeira vez que fui à Caixa Cultural. Está localizada na Praça da Sé, 111, bem no coração de Sampa, próximo ao metrô da Sé, fácil acesso para nós, visitantes de fim-de-semana.

Fui direto da rodoviária, "de mala e cuia", para não cair na tentação de me enclausurar no seio da família, e não me arrependi, há guarda-volumes.

Há várias opções culturais ocorrendo simultaneamente no espaço. Lembrou-me dos meus tempos de CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) do Rio, ali na Primeiro de Março: entrava para ver uma exposição e acabava vendo várias, dando uma passada na biblioteca, assistindo a um show, tudo no mesmo dia. Era bom.

Na Caixa Cultural São Paulo ainda vi "Kuarup, a última viagem de Orlando Villas Bôas". É basicamente uma mostra de fotos e objetos pessoais de Villas Bôas. Para mim, o ponto alto foi a oca montada logo na entrada do centro cultural, que nos leva realmente ao meio da tribo durante o kuarup dedicado ao indianista. Ambientação muito interessante. Essa vai até 11 de abril.
P.S.: Kuarup, segundo o wikipédia, é o ritual de homenagem aos mortos, celebrado pelos povos indígenas da região do rio Xingu.
Mas ainda não estava satisfeita. Na onda dos 50 anos de Brasília, que muito me interessa por motivos óbvios (para quem não sabe, sou arquiteta), vi a mostra de fotografia "Os anos JK, a era do novo". O filme-propaganda da época, sobre a construção de Brasília, foi o que mais me emocionou: todo um povo chegando, no meio do nada, para levantar do chão a promessa de democracia que era a nova capital. Também fica até 11 de abril.

E elemento surpresa da ida à Caixa Cultural, a exposição de Irina Ionesco, fotógrafa francesa, "Espelhos de Luz e Sombra" me encantou. Confesso que não conhecia seu trabalho que tem tudo o que é preciso para ser arte - primeiramente choca, depois convida a um olhar mais apurado e finalmente seduz.

Para mais informações sobre o espaço, visite o site Caixa Cultural; é preciso ter paciência, não é dos mais fáceis.

segunda-feira, 15 de março de 2010

A semana

A última semana foi efetivamente a primeira semana de aulas.

A anterior foi a semana de recepção aos bixos. Rio sozinha, voltei a ser bixete, caloura. A Unesp/Araraquara, como quase a totalidade das universidades brasileiras, proíbe o trote. Mas, como na maioria das instituições de ensino do país, a proibição é mera formalidade. Tenho de admitir que participei de brincadeiras sadias, entrei no clima e até me diverti, apesar de ser contra qualquer tipo de trote - simplesmente não acho graça, mas reconheço que algo deva ser feito para promover a integração entre novatos e veteranos - sem tinta no rosto, tênis trocado, banho de farinha ou ovo.

Passado o primeiro dia, resolvi não ir durante o restante da semana (a da recepção) pois nos foi avisado pelos prestativos veteranos (viva o trote!) que não teríamos aula.

Acabei sendo convocada para ir a Sampa ajudar minha irmã caçula, a Camis, que está comprando apartamento. O fim de semana foi ótimo, adoro quando conseguimos ficar as três juntas (ainda tem a do meio) - conversamos, rimos e até falamos seriamente sobre um ou outro tópico. E nessa ida à capital, conversando sobre revestimentos, mobiliário, cores, tive a resposta da pergunta que todos me fazem quando descobrem que sou arquiteta/caloura de Letras - sim, eu adoro arquitetura!!!

Voltando à primeira semana de aulas (a de verdade), por várias vezes nós, calouros, tivemos de responder à questão "por quê letras"? Eu já estava com essa resposta ensaiada: sempre quis fazer letras, por razões mil acabei indo para um curso técnico em Edificações aos 14 anos e depois de quatro anos de curso (que cumpri em cinco, esse detalhe deixo para um próximo post), pareceu-me natural prestar vestibular para Engenharia ou Arquitetura.

Sei que até poderia culpar meus pais por essa escolha. Sim, é verdade que eles me influenciaram. Mas influenciar não é decidir. O fato é que sempre tentei ser a filha obediente, a cordata, a que não "dá trabalho". Então a culpa é minha, hoje tenho consciência disso.
A decisão, porém, de cursar arquitetura e não engenharia foi totalmente minha. Depois de um estágio em um escritório de uma arquiteta, em Sampa, decidi-me finalmente. E cheguei ao Rio, aos 21 anos, à FAU/UFRJ, segura da minha escolha. Na verdade, as dúvidas só surgiram depois de formada, durante a procura pelo primeiro emprego.

"Por quê letras" é mais complexo do que "sempre quis fazer letras". O fato é que ter de responder uma questão tão pessoal diante de 60 pessoas desconhecidas é difícil. Sempre fui influenciada pelos meus pais a ler, como já disse em Saga de uma Leitora I. E principalmente por causa do meu pai, sempre fui incentivada a escrever, ele dizia "escrever é pensar". Durante a minha infância, via meu pai escrever muito e, como se diz na família "o exemplo é mais forte do que a palavra". Sempre gostei de escrever e escrevia bastante - poemas, contos, crônicas, em sua maioria textos curtos. Lembro-me que uma vez, durante o curso técnico, "emprestei" uma das minhas estórias para um colega não ficar sem nota de redação (sim, tínhamos "Técnicas de Redação" em um curso técnico, bons tempos!), levava-as junto comigo, presas, coladas, às vezes grampeadas na agenda. E meu pai dizia que para se escrever bem, era preciso ler.

Nesse fim de semana, fui buscar o jornal, O Estadão e o livro de decoração da Folha e, conversando com o jornaleiro, recordei que nem sempre li de bom grado O Estadão. Eu e Fê, minha irmã do meio, líamos A Folha de São Paulo, na casa da tia Nilce, éramos "rebeldes". Do Estado, em casa, comecei a ler a coluna do Paulo Francis, o "Diário da Corte". Primeiramente fui atraída pelas ilustrações (hoje sei que são de Tide Hellmeister). Depois, pelo desafio de entender o texto. Uma vez, conversei com o meu pai que achava os textos do Paulo difíceis e então ele me falou sobre estilo, aquele era o seu estilo e quanto mais eu me familiarizasse com seu jeito de escrever mais o compreenderia... não acreditei, a princípio, mas com o tempo percebi que a dica estava correta. Passei a colecionar o Diário da Corte. Quando fui morar no Rio, para fazer a facul, joguei todos os recortes fora - prato cheio para terapia, não é?

Acho que assim fica mais claro explicar o porquê de Letras. Mas é quase uma novela! Poupei meu novos colegas dessa verborragia. Clamo pela paciência dos meus leitores do blog!