segunda-feira, 15 de março de 2010

A semana

A última semana foi efetivamente a primeira semana de aulas.

A anterior foi a semana de recepção aos bixos. Rio sozinha, voltei a ser bixete, caloura. A Unesp/Araraquara, como quase a totalidade das universidades brasileiras, proíbe o trote. Mas, como na maioria das instituições de ensino do país, a proibição é mera formalidade. Tenho de admitir que participei de brincadeiras sadias, entrei no clima e até me diverti, apesar de ser contra qualquer tipo de trote - simplesmente não acho graça, mas reconheço que algo deva ser feito para promover a integração entre novatos e veteranos - sem tinta no rosto, tênis trocado, banho de farinha ou ovo.

Passado o primeiro dia, resolvi não ir durante o restante da semana (a da recepção) pois nos foi avisado pelos prestativos veteranos (viva o trote!) que não teríamos aula.

Acabei sendo convocada para ir a Sampa ajudar minha irmã caçula, a Camis, que está comprando apartamento. O fim de semana foi ótimo, adoro quando conseguimos ficar as três juntas (ainda tem a do meio) - conversamos, rimos e até falamos seriamente sobre um ou outro tópico. E nessa ida à capital, conversando sobre revestimentos, mobiliário, cores, tive a resposta da pergunta que todos me fazem quando descobrem que sou arquiteta/caloura de Letras - sim, eu adoro arquitetura!!!

Voltando à primeira semana de aulas (a de verdade), por várias vezes nós, calouros, tivemos de responder à questão "por quê letras"? Eu já estava com essa resposta ensaiada: sempre quis fazer letras, por razões mil acabei indo para um curso técnico em Edificações aos 14 anos e depois de quatro anos de curso (que cumpri em cinco, esse detalhe deixo para um próximo post), pareceu-me natural prestar vestibular para Engenharia ou Arquitetura.

Sei que até poderia culpar meus pais por essa escolha. Sim, é verdade que eles me influenciaram. Mas influenciar não é decidir. O fato é que sempre tentei ser a filha obediente, a cordata, a que não "dá trabalho". Então a culpa é minha, hoje tenho consciência disso.
A decisão, porém, de cursar arquitetura e não engenharia foi totalmente minha. Depois de um estágio em um escritório de uma arquiteta, em Sampa, decidi-me finalmente. E cheguei ao Rio, aos 21 anos, à FAU/UFRJ, segura da minha escolha. Na verdade, as dúvidas só surgiram depois de formada, durante a procura pelo primeiro emprego.

"Por quê letras" é mais complexo do que "sempre quis fazer letras". O fato é que ter de responder uma questão tão pessoal diante de 60 pessoas desconhecidas é difícil. Sempre fui influenciada pelos meus pais a ler, como já disse em Saga de uma Leitora I. E principalmente por causa do meu pai, sempre fui incentivada a escrever, ele dizia "escrever é pensar". Durante a minha infância, via meu pai escrever muito e, como se diz na família "o exemplo é mais forte do que a palavra". Sempre gostei de escrever e escrevia bastante - poemas, contos, crônicas, em sua maioria textos curtos. Lembro-me que uma vez, durante o curso técnico, "emprestei" uma das minhas estórias para um colega não ficar sem nota de redação (sim, tínhamos "Técnicas de Redação" em um curso técnico, bons tempos!), levava-as junto comigo, presas, coladas, às vezes grampeadas na agenda. E meu pai dizia que para se escrever bem, era preciso ler.

Nesse fim de semana, fui buscar o jornal, O Estadão e o livro de decoração da Folha e, conversando com o jornaleiro, recordei que nem sempre li de bom grado O Estadão. Eu e Fê, minha irmã do meio, líamos A Folha de São Paulo, na casa da tia Nilce, éramos "rebeldes". Do Estado, em casa, comecei a ler a coluna do Paulo Francis, o "Diário da Corte". Primeiramente fui atraída pelas ilustrações (hoje sei que são de Tide Hellmeister). Depois, pelo desafio de entender o texto. Uma vez, conversei com o meu pai que achava os textos do Paulo difíceis e então ele me falou sobre estilo, aquele era o seu estilo e quanto mais eu me familiarizasse com seu jeito de escrever mais o compreenderia... não acreditei, a princípio, mas com o tempo percebi que a dica estava correta. Passei a colecionar o Diário da Corte. Quando fui morar no Rio, para fazer a facul, joguei todos os recortes fora - prato cheio para terapia, não é?

Acho que assim fica mais claro explicar o porquê de Letras. Mas é quase uma novela! Poupei meu novos colegas dessa verborragia. Clamo pela paciência dos meus leitores do blog!




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