quarta-feira, 27 de maio de 2009

As três Marias ou as três de Maria




Ontem, o ciclo de debates sobre arte do Centro Cultural aqui de Sanca recebeu o GUTE - Grupo Urucum de Teatro Experimental. Apresentaram "Maria de Deus". Foi ótimo.

Adoro teatro...e assisto pouquíssimo...

A emoção é imediata. Na peça de ontem, nas nuances de voz da atriz era possível notar a tristeza e amargura da personagem Maria da Terra. As cantigas, lembrando as lavadeiras do Nordeste, pareciam ser mais uma personagem na estória das três mulheres - Maria da Terra, Maria Apaixonada e Maria Mãe.

Depois da peça, o bate-papo com o grupo completou as atividades de ontem. É muito bom ver gente batalhando para realizar seu trabalho - da concepção à montagem tudo é pensado e feito coletivamente. E não é preciso comentar a dificuldade de patrocínio/apoio para as artes em geral.

É um trabalho de formiga, mexer com essa tal de arte - devagar e sempre, coletivamente para ser um pouco menos difícil, tentando levar seu trabalho ao alcance do público.

Voltando à peça, a história das três marias lembrou-me da Triquetra -o símbolo celta que representa as três faces da Grande Mãe - a Virgem, a Mãe e a Anciã, o que, para mim, define a mulher em sua faces ingênua, protetora e prudente, respectivamente.

E pensando bem não somos mesmo assim - essas três faces em uma só criatura feminina?

A peça me fez lembrar também de uma cantiga que faz parte da minha infância - Pedrinha Miudinha. Os figurinos das personagens, as cantigas...


Pedrinha miudinha
Na Aruanda auê
Lajeiro tão grande, tão grande
Na Aruanda auê.
Três pedras,
Três pedras dentro desta aldeia,
Uma é maior, outra é menor,
E a "mais pequena" é que nos alumeia.


A foto é da triquetra que tatuamos - as três filhas de Maria, Pá, Fê e Cá - no ano passado. É a tatoo da "mais pequena".

Ah...Tem mais informações sobre a peça, o GUTE e os encontros no Centro Cultural no Paracatuzum!

terça-feira, 26 de maio de 2009

Politicamente Correta

Eu tenho algumas preciosidades no meu outro blog, o particular...

Estava atualizando as notícias lá quando me deparei com essa estória de rolar de rir. Por isso resolvi postar aqui...

Tenho outros textos legais lá - quando a coragem (!!!) deixar trago para cá.

Segue o contexto - na época, pouco antes vir pra Sanca de vez, morava e trabalhava em Campinas, numa loja de móveis planejados.


"Medo no Ponto de Ônibus

Outro dia, como sempre, saí da loja e fui pro ponto de ônibus. Quando sentei no penúltimo lugar vago do ponto - a fim de esperar o coletivo - sentou-se ao meu lado um senhor mulambento. Pensei "Não devo me levantar só porque ele está fedido. Não seria correto."
Ele dizia coisas sem sentido como se conversasse com alguém. Falava sobre xadrez. Talvez fosse uma daquelas pessoas que perdem o rumo da vida mas que um dia já tiveram tudo - emprego, casa, família.

Eu o conheço. Fica na porta do Pão de Açúcar pedindo esmolas.

Hoje uma boa alma lhe deu uma lata de leite condensado que ele devorava rapidamente.
Sabe quando a lata é aberta com aqueles abridores antigos e a borda fica toda irregular?
Estava assim. Tive um pouco de medo. Afinal, ele falando sozinho, com uma lata aberta como arma, sentado ao meu lado. Preconceito da minha parte. Que feio! Só porque ele estava com uma lata na mão, era pedinte, falava sozinho, eu já supunha que era perigoso. Me recriminei por dentro.

Enquanto ele falava com o ser imaginário sobre xadrez eu tentava não me incomodar com o seu cheiro e não chamar sua atenção. Olhava perdida para o chão sem conseguir me concentrar em nada que não fosse o homem ao meu lado.

Um ônibus finalmente apareceu...mas não era o meu. Uma moça se levantou e fez sinal.
ele se virou para mim e disse "Tá indo embora. Mulher feia. Não gosto de mulher feia!"

Senti que agora ele conversava com o amigo invisível mas olhava para mim. Eu de lado só pensava que era a posição mais fácil para um golpe fatal - a lata podia atingir a jugular (lembrei-me da minha avó). Não parava de pensar na lata, que coisa feia!

Acabei por refletir sobre uma dúvida que me incomoda - por que acontecem crimes absurdos? daqueles que não têm solução? Será que é porque as pessoas estavam na hora errada no local errado e não ouviram a sua voz interior dizendo SAIA JÁ DAÍ tentando ser politicamente corretas? E adianta ser politicamente correta com a jugular cortada? Já podia ver a manchete num jornal popular - Morta no ponto de ônibus.

E eu ainda sentia que ele falava olhando para mim.
Retribuí o olhar timidamente, tentando manter uma cumplicidade, olhando baixo para não parecer intimidadora nem agressiva.
Então ele começou a falar mais alto e diretamente para mim "Quer morrer? Você quer morrer?"
Pronto! Meu pior pesadelo estava se tornando realidade! O que é que eu faço? Será que agora já posso me levantar sem parecer preconceituosa?

E ele continuou"Quer morrer? Mulher feia? Sai do meu caminho, mulher feia. Não gosto de mulher feia. Sai do meu caminho."

E eu firme no ponto. Não arredei pé.

"Sai do meu caminho, mulher feia"

E o homem finalmente cedeu e se levantou, fugindo - graças aos céus - da mulher feia.

E eu me mantive como sempre - politicamente correta e por enquanto viva."

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Novos Contatos

Este ano me inscrevi em tudo que me pareceu interessante: curso de desenho, ciclo de debates sobre artes, pós em arte, e ainda me enfiei numa turma de ginástica num parque público aqui de Sanca (São Carlos, SP).

Às vezes, morando numa cidade grande, num ritmo de vida mais acelerado não temos tempo de viver tudo o que a cidade nos proporciona. Já moro aqui há dois anos e só agora resolvi me dar essa oportunidade - conhecer a cidade.

De tudo que me propus a fazer só a pós é paga e não se realiza na cidade. Tudo mais é gratuito e de fácil acesso à população. Fiquei particularmente impressionada com a ginástica - professor de educação física, material de apoio (pesos, colchonetes, essas coisas), aulas diárias. Não que nas cidades grandes (minha experiência é em Sampa e Rio) isso não ocorra...mas temos que garantir logo a vaga porque a procura por essas atividades costuma ser grande. Lembro de participar de sorteio após a inscrição para poder fazer natação no Ginásio do Ibirapuera, isso nos anos 80. Aqui consegui entrar na turma de ginástica após o início das aulas.

O bom desses cursos, além de seus conteúdos, claro, é a oportunidade de conhecer gente da cidade...Novos contatos...Novas estórias...Eu me senti um peixe fora d'água aqui, mesmo com a recepção calorosa dos amigos do meu marido. Mas são amigos dele, né? Apesar de ter construído algumas boas amizades na rede dele sentia falta de conhecer gente...Não sei se dá pra entender...
Em que não se fale de construção, de arquitetura, mas sim do dia-a-dia...Se aprende tanto com as conversas sobre o dia-a-dia.

O bom nesses contatos também é a diversidade das pessoas...de todas as idades...de várias realidades de vida diferentes...vindos de vários lugares do País...só no sábado conheci duas cariocas na pós...uma inclusive fez facul no mesmo prédio que eu, na EBA do Fundão...

Lembrei da dona Olga...

Na época da facul ficava ente Rio e Sampa...Numa dessas viagens de ônibus conheci dona Olga...de Recife...estava viajando com a filha e a neta e se sentou ao meu lado...conversamos a viagem inteira, as seis horas de viagem, sobre tudo. Tudo mesmo. Ela me contou sobre a sua vida, a viuvez que não a abateu, ouviu as minhas estórias sobre as minhas inseguranças pós-adolescência ...lá pelas tantas comentou sobre a minha roupa. Achava-me muito nova para me vestir toda de preto...disse-lhe que adorava preto, não me vestia assim sempre, mas adorava a cor. Então ela me falou, quase pedindo desculpas, que devia me vestir de cores alegres, vivas, que isso valorizaria a cor de minha pele...Perguntou se eu usava vermelho. Respondi - nunca...
Não achava que me caía bem...na verdade achava que chamaria muita atenção...
Sei que, depois de seis horas de viagem, cheguei ao Rio ou em Sampa, não me lembro mais quem era o destino, quem era a origem, enfim, comprei uma hering vermelha - básica...
E realmente, salve dona Olga, sinto-me o máximo de vermelho...

Naquela viagem não foi sobre vermelho que aprendi - foi muito mais...não sei nem explicar mas teve muita importância para o momento que passava na época.

E como me lembro cada vez mais das conversas com a minha avó "Glantina". Discordávamos em quase tudo, eu pensava, mas hoje quase todos os dias lembro-me de um ditado, um ensinamento falado por ela. Mas isso é estória para outro dia...

E salve dona Olga!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Feijão Gordo, Dilma e Festa Junina - a semana

A semana foi agitada.

Depois do desabafo da última postagem e de uma reflexão profunda na minha vida, vi-me em um outro estágio. É tão mais fácil quando mudamos o que pode ser mudado e simplesmente aceitamos o que não é possível ser alterado (parece reunião de grupo de ajuda, mas faz sentido). Terminei a semana passada de bem comigo mesma. E em paz com o mundo. E feliz por estar viva e com saúde. E nada melhor para celebrar um bom momento do que ver os amigos.

No último sábado recebemos os amigos pro famoso Feijão Gordo.

Passei o dia comendo e conversando. Comendo e conversando. Foi ótimo.

Pela primeira vez, vimos receita de feijão gordo na net. Tem feijão de tudo quanto é tipo. Algumas são como uma feijoada light - levam quase tudo.

Não sei dar receita, mas vão aí algumas dicas:

Cozinhamos de véspera 1 kg de feijão para seis casais (na pressão com folhas de louro). Reservamos na geladeira.
Cortamos em tiras, também de véspera, 4 maços de couve. Reservamos na geladeira em pote com água.
No dia: fritamos alho, bacon e calabresa e juntamos ao feijão. Temperamos com pouco sal, caldinhos de bacon (2) e pimenta. Para a couve, fritamos alho, cebola e bacon.
Ainda inventei de fazer farofa de verdade (em vez de comprar a pronta) - tentei me lembrar da famosa farofa de alho da minha mãe - manteiga e azeite+alho+bacon+ovo+1kg de farinha de mandioca+pimenta dedo-de-moça (para prestigiar um amigo louco por pimenta).

Das quantidades só me lembro dos quilos - o resto sigo meu senso - dependendo do dia, muito bom.

E aí partimos para a comilança e cervejinha gelada para acompanhar o papo que não estava em dia.
E foi tudo ótimo!!!

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Tenho pensado bastante na ministra. Depois de divulgado o câncer ela perdeu a privacidade de vez. E acho que esta é uma das horas em que se prefere ficar com os amigos e familiares, sem muita badalação.
E lá foi ela pro hospital com dor. E segue procissão de repórteres. E se começa a especulação - ainda é candidata? Não é mais a preferida do Presidente?
Até umas semanas atrás se dizia que o Presidente estava fazendo campanha antes da hora, agora se cobra dele posicionamento sobre o assunto. Ainda é candidata?
Por favor! Será que é isso que queremos saber?
A coluna do Diogo Mainardi (Veja) de 6 de maio comentava a dificuldade de se tratar esse mesmo tipo de câncer de que sofre a ministra na rede pública de saúde. Isso me parece uma pauta mais interessante do que a pura especulação se ela é ou não a candidata do "cara".

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Estamos pensando em organizar uma festa junina. Ainda não sei qual será o menu, ainda estamos procurando o local para o evento. Já nos foi colocada a condição para o sucesso da festa - freezer para as "geladas". Se tudo der certo será a primeira festa junina que organizo. Estou empolgada.

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O corte de cabelo, por questões de trabalho, foi adiado para a próxima semana, sem falta. Sinto-me renovada com um corte de cabelo. É só o que falta para celebrar a nova fase. As lágrimas definitivamente ficaram pra depois (ou quem sabe pra nunca mais, pelo menos pra esse propósito).

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O casamento

Ontem no programa da Marília Gabriela, Marisa Orth citou uma frase que já entrou no meu "caderninho" - A diferença entre o casamento e a prisão é que no casamento não basta pensar na própria refeição, é preciso pensar também na do carcereiro.

De uns dias para cá tenho pensado (e muito) sobre casamento - em geral e no meu em particular principalmente. Outro dia, vendo uma das minhas séries, ouvi uma música que há muito tinha esquecido, Everybody's gotta learn sometime - algo como em "algum momento todo mundo tem de aprender". E, num relacionamento, parece que em algum dia (finalmente!) todos aprenderemos.

Aprenderemos que é preciso aceitar as pessoas como são; que é preciso desistir de mudá-las ou moldá-las conforme nosso gosto, que é preciso aceitar o amor como ele é sem menosprezá-lo ou supervalorizá-lo. Aprenderemos que é preciso saber viver com as limitações do outro e com as nossas próprias limitações em aceitar o outro como ele deseja ser.

Também é sábio admitir quando não se está mais disposto a admitir ou aceitar mais nada. É sábio reconhecer a hora do Basta!

Aí me vem essa frase da Marisa...

Costumo dizer que o fim de um relacionamento se resolve com duas coisas: dois dias de lágrimas e um bom corte de cabelo.

O corte de cabelo marquei para a próxima semana. Já as lágrimas estou adiando. Por enquanto.

sábado, 9 de maio de 2009

Ano da França - Camille



Ainda nas lembranças francesas...

Falando da época da facul, no Rio, da França, lembrei-me de Camille Claudel (1864-1943), a artista francesa. Fui uma das milhares de pessoas (falam em 120000) que viram a exposição do MAM em 1998. E já tinha visto a mesma exposição em Sampa, no final do ano anterior. (Era a vantagem de estar meio cá meio lá, na época).

Saí da exposição mais encantada com Camille do que já era. Meu primeiro contato com sua vida e obra foi com o filme, que leva seu nome, de 1988. Não me lembro quando ao certo o assisti mas fiquei marcada pela estória de amor e abandono ali retratada.

Há uma exposição percorrendo o país até junho mas não sei onde exatamente está agora. Iam ficar nos CCBB's.

Para aqueles que gostam de arte, há um artigo sobre Camille da Prof. Ermelinda Ferreira que decifra um pouco a sua obra.

Imagem - L'Âge Mûr (http://www.camilleclaudel.asso.fr/pageweb/agemur.html)

2009 - Ano da França no Brasil

Todo ano me prometo que vou retomar o meu francês.
Sabe, é uma das minhas resoluções de ano novo.

Quando criança, ainda na escola, me jurava que um dia iria à França - a trabalho, para estudar, ou mesmo morar - nunca tive medo de estar longe da família. Aos 8 anos, essa já era uma idéia fixa que foi perdendo força conforme eu crescia - fazia parte daqueles sonhos da infância que não levamos a sério com o passar dos anos.

Aprendia francês na escola. E junto com a língua muito da cultura me foi possível conhecer.

Lembro das músicas, dos desenhos infantis - Colargol, Les Stroumphs, Voyage, Voyage. Foram 8 anos absorvendo tudo aquilo e depois vendo tudo ficar no mundo das boas lembranças. Na época da facul ainda mantinha contato com a língua através dos textos acadêmicos.

Ainda penso em conhecer um dia a França - deixando Paris por último, percorrendo um pouco do interior, um pouco da riviera.

Com o "Ano da França no Brasil" ficou mais fácil eu me lembrar do meu francês.

Tem um blog legal na veja.com, do Antônio Ribeiro. Vale a pena ver as postagens mais antigas.
A de 13 de abril sobre intolerância religiosa no cotidiano dos jovens franceses traz um vídeo muito bom.

Sem querer, outro dia descobri o Francoclic, uma página do Ministério da Educação para os interessados na língua e cultura francesa de forma didática. É interessante para quem está um pouco afastada da língua, como eu.

Meu inglês vai do macarrônico ao básico mas vejo tranquilamente uma das minhas séries favoritas no som original - sem problemas. Quando vejo com legendas, percebo que o tradutor amenizou aqui ou ali uma expressão ou que suprimiu uma frase inteira por falta de tempo/ espaço. Já o TV5, canal a cabo francês na NET, tenho de me esforçar para assistir. Não por não entender a língua, ainda consigo compreender razoavelmente, mas por falta de hábito.

Mas o Ano da França "taí" gente!

P.S.: Preste atenção no vídeo Voyage, Voyage. Totalmente anos 80.

Um início

Este é meu primeiro blog público. Já tenho um diário de bordo pessoal aberto para poucos.

Conforme postei no meu diário pessoal, estou tentando retomar o hábito de escrever.

Outro dia vendo o Saia Justa, vi Mônica Waldvogel falando como gostava de colocar seus pensamentos à prova, compartilhando-os com amigos seletos - isso a fazia refletir sobre eles e rever seus conceitos.

Achei interessante. Costumava gostar de fazer isso - conversar, trocar idéias, rever conceitos. Já não fazia isso há tempos.

Realmente gosto da troca, de poder chegar certa de algo e sair com dúvidas sadias ou certezas à espera do próximo desafiante. Faz parte do crescimento do meu ser.

Por várias razões tenho visto várias das minhas certezas desmoronarem. É como se fosse o momento das decisões - depois de muito pensar, de rever no meu íntimo sentimentos e atitudes que já não mais se justificam, é preciso partir para o reajuste.

Uma amiga me sugeriu o blog público. Acho que escrever vai me ajudar a colocar as idéias em ordem. Então vamos lá - esse foi o primeiro contato.