terça-feira, 26 de maio de 2009

Politicamente Correta

Eu tenho algumas preciosidades no meu outro blog, o particular...

Estava atualizando as notícias lá quando me deparei com essa estória de rolar de rir. Por isso resolvi postar aqui...

Tenho outros textos legais lá - quando a coragem (!!!) deixar trago para cá.

Segue o contexto - na época, pouco antes vir pra Sanca de vez, morava e trabalhava em Campinas, numa loja de móveis planejados.


"Medo no Ponto de Ônibus

Outro dia, como sempre, saí da loja e fui pro ponto de ônibus. Quando sentei no penúltimo lugar vago do ponto - a fim de esperar o coletivo - sentou-se ao meu lado um senhor mulambento. Pensei "Não devo me levantar só porque ele está fedido. Não seria correto."
Ele dizia coisas sem sentido como se conversasse com alguém. Falava sobre xadrez. Talvez fosse uma daquelas pessoas que perdem o rumo da vida mas que um dia já tiveram tudo - emprego, casa, família.

Eu o conheço. Fica na porta do Pão de Açúcar pedindo esmolas.

Hoje uma boa alma lhe deu uma lata de leite condensado que ele devorava rapidamente.
Sabe quando a lata é aberta com aqueles abridores antigos e a borda fica toda irregular?
Estava assim. Tive um pouco de medo. Afinal, ele falando sozinho, com uma lata aberta como arma, sentado ao meu lado. Preconceito da minha parte. Que feio! Só porque ele estava com uma lata na mão, era pedinte, falava sozinho, eu já supunha que era perigoso. Me recriminei por dentro.

Enquanto ele falava com o ser imaginário sobre xadrez eu tentava não me incomodar com o seu cheiro e não chamar sua atenção. Olhava perdida para o chão sem conseguir me concentrar em nada que não fosse o homem ao meu lado.

Um ônibus finalmente apareceu...mas não era o meu. Uma moça se levantou e fez sinal.
ele se virou para mim e disse "Tá indo embora. Mulher feia. Não gosto de mulher feia!"

Senti que agora ele conversava com o amigo invisível mas olhava para mim. Eu de lado só pensava que era a posição mais fácil para um golpe fatal - a lata podia atingir a jugular (lembrei-me da minha avó). Não parava de pensar na lata, que coisa feia!

Acabei por refletir sobre uma dúvida que me incomoda - por que acontecem crimes absurdos? daqueles que não têm solução? Será que é porque as pessoas estavam na hora errada no local errado e não ouviram a sua voz interior dizendo SAIA JÁ DAÍ tentando ser politicamente corretas? E adianta ser politicamente correta com a jugular cortada? Já podia ver a manchete num jornal popular - Morta no ponto de ônibus.

E eu ainda sentia que ele falava olhando para mim.
Retribuí o olhar timidamente, tentando manter uma cumplicidade, olhando baixo para não parecer intimidadora nem agressiva.
Então ele começou a falar mais alto e diretamente para mim "Quer morrer? Você quer morrer?"
Pronto! Meu pior pesadelo estava se tornando realidade! O que é que eu faço? Será que agora já posso me levantar sem parecer preconceituosa?

E ele continuou"Quer morrer? Mulher feia? Sai do meu caminho, mulher feia. Não gosto de mulher feia. Sai do meu caminho."

E eu firme no ponto. Não arredei pé.

"Sai do meu caminho, mulher feia"

E o homem finalmente cedeu e se levantou, fugindo - graças aos céus - da mulher feia.

E eu me mantive como sempre - politicamente correta e por enquanto viva."

2 comentários:

  1. Aff, meu primeiro comentário não ficou gravado!1 Segunda tentativa: " Da próxima vez seja politicamente incorreta,por favor hem!!! Passe tb a levar um cachecol pra proteger sua jugular...rs!! Lendo esta estória me deu vontade de devorar uma lata de leite condensado tb... hehehehe... Fuiiiii (ao mercado)... rs. Beijos

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  2. Marcio...os comentários ficam gravados, sim...
    E aí? Atacou a lata de leite Moça?

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Leio primeiro, publico depois!